Quando tinha 10 anos tive os meus primeiros ataques de pânico.
Na altura ninguém – muito menos eu – se apercebeu do que se estava a passar. Lembro-me de, quase diariamente, implorar à minha mãe para me levar ao hospital, garantindo-lhe de que se passava algo de muito grave com o meu corpo. Era uma criança perfeitamente normal que, do “nada” começava a ficar ansiosa, a transpirar, com palpitações e com falta de ar. Isto tudo enquanto estava no sofá com o meu irmão a ver Disney Channel. Ao fim de várias visitas ao hospital, a médica lá resolveu passar do “ela não tem nada” para um “ela tem uma pneumonia psicológica”. Eu saí de lá confusa, mas ao mesmo tempo ligeiramente aliviada por finalmente poder colocar um rótulo naquilo que estava a sentir – mesmo que esse rótulo não significasse absolutamente nada, a não ser “é da tua cabeça”. A minha mãe saiu só confusa. Ainda mais confusa. Como é que a minha filha, que é uma criança, está com problemas psicológicos?
Foram uns meses, não sei precisar quantos, de muito stress para mim. Não só por não perceber o que se passava comigo, como por ninguém à minha volta me apoiar da forma como eu precisava. Tentei distrair-me com amigos, porque se ficasse sozinha era certo que ia entrar em pânico. E, da mesma forma que aqueles ataques apareceram, também desapareceram.
Há cinco anos, em 2015, a ansiedade voltou a bater à porta.
Tinha acabado de mudar de casa, estava a morar sozinha e no segundo ano da faculdade, quando comecei a ter a nítida sensação de que ia morrer. Por esta altura ainda não fazia a mínima ideia do que era um ataque de pânico, nem me passava pela cabeça que estava a passar pelo mesmo que tinha passado 10 anos antes. No entanto, as sensações eram iguais: uma certeza, no corpo e na mente, de que algo muito grave estava a acontecer comigo. Palpitações, suores, falta de ar. Atingi o meu limite quando já nem sequer conseguia sair de casa, limitava-me a ficar sentada no chão da sala a olhar para as paredes e a pensar “vou morrer”. Na altura, o meu (ex)namorado e a minha melhor amiga tentaram apoiar-me da forma que conseguiram. No entanto, é praticamente impossível uma pessoa que nunca passou por uma situação semelhante perceber o que é um ataque de pânico. À semelhança da minha mãe, eles achavam aquilo um bocado exagerado e “era só mudar a minha mentalidade”.
Passei alguns meses nisto até que peguei no meu telemóvel e mandei mensagem para a única pessoa que poderia eventualmente compreender-me (ou, pelo menos, acreditar em mim): o meu pai. E na mensagem eu dizia algo sobre não ver a luz ao fundo do túnel. Foi o suficiente para, em dois minutos, ter uma psicóloga a ligar-me. Não só “uma” psicóloga, mas uma excelente psicóloga que foi uma peça fundamental no início deste meu Despertar.
Foi a Ana que me disse que o que eu estava a sentir era um ataque de pânico, e detalhou todo o processo que acontece no nosso corpo e na nossa mente, permitindo-me perceber racionalmente aquilo que se estava a passar. Resumidamente, um ataque de pânico é uma curva: tem um início, uma escalada, um pico e, por fim, uma descida e um fim. E, quando eu percebi isso, consegui começar a identificá-lo antes de chegar ao pico e travá-lo. Seguiram-se várias consultas com a Ana, mas os ataques de pânico não duraram muito tempo depois daquela primeira chamada telefónica. Voltei para casa dos meus pais, terminei a minha relação e mudei para a turma da noite da faculdade para me poder dedicar a outras coisas durante o dia.
E o que é que isto tudo tem a ver com o Despertar?
Eu sempre tive uma ligação espiritual, mas a partir desse momento comecei a buscar respostas para as perguntas clássicas “Quem Sou Eu?” e “O que raio estou aqui a fazer?” e “Qual o propósito disto tudo?”. Estudei algumas religiões, que me trouxeram alguns insights mas nenhuma constituiu uma verdade para mim. Voltei-me para autores de auto-conhecimento e espiritualidade e descobri aí um mundo. Decidi voltar a estudar nutrição e saúde holística, e inscrevi-me no curso de Health Coaching do IIN. Estudei PNL e voltei a fazer o curso de reiki. E a partir daí tem sido uma avalanche de acontecimentos, de pequenos despertares e de aprendizagens.
Muitas vezes me perguntam sobre como começar no mundo da espiritualidade. Eu acredito, por experiência própria e por estudo do mundo, que a porta da espiritualidade se abre quando somos abanados até à alma. Pode ser uma perda, uma separação, um desastre, uma depressão, etc. E é por isso que eu acredito que estes episódios que consideramos maus na nossa vida, são na verdade uma benção e um pedido para nos reconectarmos com a nossa essência. Se eu não tivesse passado pela síndrome do pânico, assim como várias perdas ao longo da minha vida, provavelmente estaria a viver na superficialidade neste momento – adormecida. E daí eu dizer que foi um período tão importante para o meu Despertar. Para eu iniciar esta minha jornada de me conhecer, de reconhecer Quem Eu Sou e o que estou a fazer neste planeta.
Foram várias as pessoas que me deram e dão a mão neste processo, que me ampararam e me ensinaram duras lições. Tenho vários mestres e a eles estou muito grata. Mas o trabalho só eu posso fazer e por muito que queiramos ajudar alguém, o caminho tem de ser feito sozinho. Um mestre pode ser alguém que sai da tua vida; pode ser um parceiro numa relação disfuncional; pode ser um chefe que não te respeita nem valoriza no trabalho. O que tens a aprender com a situação, com aquilo que o outro te está a querer mostrar sobre ti? A ansiedade é uma grande amiga que te avisa quando algo na tua vida precisa de mudar. Presta atenção.
Estamos habituados a rotular as emoções como “boas” e “más”, mas na realidade elas são só energia que precisa de fluir. As emoções são parte da bússola da nossa vida, e nós precisamos de saber o que estamos a sentir para identificarmos para onde ir. Hoje sei que a ansiedade está sempre pronta a dar-me um sinal caso eu me esteja a desviar do meu verdadeiro caminho, da minha missão. E, em vez de querer fugir dela, agradeço a sua função na minha vida e sigo no meu propósito.